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09/11/2013

OS DONS DO ESPÍRITO SANTO
A experiência de Deus
Antes de se falar sobre os Dons, é preciso compreender nossa relação com Deus. Deus quer ser experimentado. É inadequada a ideia de conhecer a Deus. Mal comparando, é como um vinho nobre e raro. De nada vale dizer ou saber dele, é preciso experimentá-lo.
Eu costumo concordar com os agnósticos, ateus e incrédulos. É impossível conhecer a Deus (gnose = conhecimento; agnóstico = não conhecer). Talvez, esses ditos “infiéis” estejam mais perto do Deus verdadeiro, do que aqueles que juram conhecê-Lo.
O experimento de Deus não vem da razão ou das ideias. Também, não vem de fora para dentro. 
Isto seria inverter tudo. Seria criar um deus a nossa imagem e semelhança. Não raro o fazemos. 
Muitas vezes criamos um deus: mágico, vingativo, egoísta, professor, escravo, gênio da lâmpada, torcedor fanático do meu time e vai por aí...
A chave para encontrar a Deus é encontrar primeiro a si mesmo.
Somos Templos do Espírito Santo
Deus está no interior e não do lado de fora. Manifesta-se de dentro para fora. Já ouvi muita gente dizer de peito aberto:
- “Somos templos do Espírito Santo”.
Mas, com todo respeito, soou estéril. Apenas palavras. Às vezes dourada de boas intenções, outras, nem tanto. Pareceram  mais um argumento de repreensão, de discriminação ou de fanatismo. Não irradiava convicção e vivência interior.
Mas, voltando aos Dons, precisamos experimentá-los, senti-los, saboreá-los, deixá-los criar volume e colorido. Como nas Bodas de Caná: “sirvamo-nos do melhor do melhor vinho”.

                                                   Os Sete Dons
A encomenda é antiga. Há tempos uma amiga me pediu para escrever algo a respeito. A tarefa não é simples. Daria um livro, senão vários. Aliás, já tenho um na forma. Seu Título será: “O Deus Esquecido”.  Mas, por ora, vamos nos limitar aos dons propriamente ditos.
A rigor, em vez de dons, deviríamos chamar de Dádivas de Deus Despertadas pelo Espírito Santo
Também não são apenas sete. Paulo elenca nove (1Cor 12,8).
O numeral sete tem vários significados na cultura semítica. Sete pode significar obra completa. Deus fez o mundo em sete dias. Pode ser considerado um número indicador de infinito: devemos perdoar setenta vezes sete (Mt 18,22). Prefiro esta: são infinitos.
Didaticamente, podemos nos valer da tradição herdada dos portugueses: sete dons. São eles (coloquei-os propositalmente na ordem alfabética inversa):
·      Temor de Deus;
·      Sabedoria;
·      Piedade (Espiritualidade);
·      Inteligência;
·      Fortaleza;
·      Ciência;
·      Bom Conselho


Nem todas as culturas cristãs celebram estes sete dons tal como acontece aqui no Brasil. Porém, estes sete oferecem uma boa síntese para compreendê-los.
Os Dons do Espírito Santo São Inatos
Para iniciar nossa reflexão, precisamos retornar ao início de tudo: o Livro do Genesis:
“Façamos o homem à nossa imagem e semelhança... Deus os criou; homem e mulher os criou”  (Gn 1,26-27).
Duas palavras se destacam: imagem e semelhança.
Como disse no início, precisaremos experimentar e nomear nossas sensações interiores. Mas, de que modo posso sentir a experiência de ser a imagem de Deus?
·           Posso sentir Deus na harmonia, na precisão da vida, na beleza... Mas, e dentro de mim?
·           Em muitos momentos já senti fazer coisas ou dizer palavras vindas de algum lugar além de mim? Tempos depois, perplexo, pude dizer: como consegui dizer (ou fazer) isso ou aquilo?
De algum modo, a experiência de Deus está presente na vida de cada um. Ela desperta uma sensação transcendente. 
Esta constatação, de que temos uma componente transcendente (espiritual), nos permite afirmar: somos seres espiritualizados. Assim como Deus o é, temos então alguma aparência divina. Houvesse um espelho apropriado, poderíamos visualizar esta imagem de Deus em nós.
Ela se traduz em valores potenciais e universais: Amor, Solidariedade, Bem Comum, Acolhida e infinitamente outros. O que isso tem a ver com os dons? Muito. É nessa dimensão transcendente o lugar onde residem todos nossos dons. A auto descoberta (auto, porque só eu posso descobrir), a tomada de posse e o crescimento desses valores nos darão, cada vez mais, a aparência divina. O projeto é: deixar crescer e se tornar evidente em mim a imagem de Deus.
Jesus – Verdadeiro Homem
 Mas Deus também se fez homem. Homem, de natureza humana, tal como cada um de nós, na pessoa de Jesus Nazareno. Jesus não se fingiu de humano, se fez homem verdadeiro. Jesus concretizou a plenitude da outra palavra: semelhança
As mesmas perguntas feitas com relação à imagem podem ser repetidas. Vamos resumir a uma só: quando me senti (ou sinto) semelhante a Deus?
Blasfêmia poderia dizer algum fundamentalista. Falta de humildade, dirão outros. Será? Acaso tal assertiva não veio do texto Sagrado? Lá bem claro, é só ler: façamos... semelhante.
Voltando à pergunta: sim, em vários momentos já percebi semelhanças de Deus dentro de mim e de muitas outras pessoas. Obviamente, semelhança não significa igualdade. Entre elementos semelhantes, há diferenças de quantidade, amplitude e qualidade, dentre outros paramentos.
Mas. quando ocorre essa sensação de semelhança? Quando me sinto amante, solidário, justo, verdadeiro, leal, bondoso e outros sentimentos positivos.
Da mesma forma, posso perceber semelhantes a Deus pessoas que encontrei pela vida. Outras, onde essas sementes são muito evidentes, foram consideradas santas pela igreja católica. São citadas como exemplares pelos feitos realizados.
A Constatação dos Traços de Deus no Ser Humano
Um dos exemplos narrados no Texto Sagrado é o do chamado jovem rico. Jesus pergunta:
 “Por que me chamas de bom? Só Deus é Bom.” (Mc 10,17).
Aí está. A bondade plena está em Deus. Então o jovem conhecia a bondade e a reconhecia em Jesus – semelhança.
Esta virtude, a bondade, não é adquirida. Vem de dentro. Podemos afirmar: faz parte da natureza humana.
Em qualquer lugar, tempo e cultura a bondade é aceita e reconhecida como valor. É filha direta do amor. Deus é amor.
Esta e outras tantas virtudes estão escritas indistintamente no interior de cada ser humano.
“Dias virão em que firmarei nova aliança... Incutirei minha Lei, gravá-la-ei em seu próprio coração. Serei o seu Deus...“ (Je 31,31;33).
O texto vai além:
“Então, ninguém terá encargo de instruir seu próximo ou irmão, dizendo: “Aprende a conhecer o Senhor”, porque todos me conhecerão, grandes e pequenos...” (Je 31,34).
O que isso significa? Significa que a conduta humana deve ser pautada pela Lei imposta pelo Criador em cada pessoa. Vem de dentro e não de fora. É inata.
A pessoa humana tem em si todos os ingredientes necessários para ser feliz e viver em plenitude. Esta conclusão é basilar da psicopedagogia humanista (Maslow, Rogers, Rochais e outros).
Como Perceber Esses Dons
Se assim é, como então ler, compreender e viver de acordo com essa Lei?
Aí é a vez de o Espírito Santo atuar. É Ele quem as ilumina, faz luz sobre elas de modo a nos instruir com a melhor maneira de viver bem e ser feliz.
O Espírito de Deus atua em nós como uma bússola interior. É ele que dá a direção para melhor caminharmos na estrada da vida.
E como eu posso perceber essa luz e interpretar sua direção?
Simples – Deus é simples - é aquela intuição profunda que me faz ficar em paz, bem comigo e com o meu entorno humano.
Para permitir a boa leitura dessas intuições entram os Dons do Espírito Santo. 
(Até a próxima)

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