SÉRIE “O TEMPO SE CHAMA HOJE”
(Análise humanista)
"Tristes tempos, onde é mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito" (Albert Einsten)
CARACTERÍSTICAS:
- Texto exclusivo de João;
- Referência a Jacó e seu filho José;
- Jesus está cansado, fatigado pela caminhada;
- Sol a pino: hora sexta (equivalente ao meio-dia);
- Uma mulher samaritana;
- Jesus pede: “dá-me de beber”;
- A água;
- A numerologia: 5 maridos, mais um igual a seis;
- A novidade: Jesus toma a iniciativa. Deus agora se adora em Espírito e Verdade não mais em um local determinado;
- Novo casamento: uma missão, há um novo Reino a anunciar.
PREÂMBULO
Quem é João?
João foi o último a escrever o evangelho. Por isso, a narrativa está distante do tempo em que os fatos históricos ocorreram.
Provavelmente quarenta anos depois ou até mais. Ele costuma se valer de fatos para dizer outra coisa.
Sua escrita é subliminar, inteligente e profunda. Usa muitos símbolos e números para passar sua mensagem.
João foi o último a escrever o evangelho. Por isso, a narrativa está distante do tempo em que os fatos históricos ocorreram.
Provavelmente quarenta anos depois ou até mais. Ele costuma se valer de fatos para dizer outra coisa.
Sua escrita é subliminar, inteligente e profunda. Usa muitos símbolos e números para passar sua mensagem.
O texto vai além das palavras, não se atrela a um evento. Sob essa ótica, João é um péssimo jornalista.
Afinal, Jesus estava ou não com sede? Bebeu ou só falou? E a dúvida dos discípulos: Jesus comeu?
Cuidado, alguém pode vir com a velha e falsa premissa de que Jesus, como Deus, não sentia fome. Isso jogaria por terra todo mistério da Encarnação do Verbo (conf. Mt. 4,2; Fl. 2,7; Hb. 4,15).
Afinal, Jesus estava ou não com sede? Bebeu ou só falou? E a dúvida dos discípulos: Jesus comeu?
Cuidado, alguém pode vir com a velha e falsa premissa de que Jesus, como Deus, não sentia fome. Isso jogaria por terra todo mistério da Encarnação do Verbo (conf. Mt. 4,2; Fl. 2,7; Hb. 4,15).
João inicia a mensagem recordando duas personagens históricas: Jacó e José.
Certamente, não às colocou ao acaso. Jacó, embora escolhido por Deus e convertido para uma nova missão, não era o herdeiro de direito. Ele precisou jogar contra o sistema para ser abençoado pelo pai Isaac.
Certamente, não às colocou ao acaso. Jacó, embora escolhido por Deus e convertido para uma nova missão, não era o herdeiro de direito. Ele precisou jogar contra o sistema para ser abençoado pelo pai Isaac.
José, caçula, era o filho predileto de Jacó. Foi excluído e traído pelos irmãos e vendido como escravo. Mesmo assim, soube perdoar e socorrer seus irmãos diante de uma grande fome.
No texto da samaritana, a preocupação é eliminar a discriminação e focar no chamado messiânico.
O Deus revelado por Jesus é sem preconceitos. É ele quem se dirige a um samaritano. Aliás, mais grave: uma mulher samaritana.
Vai além, pede-lhe algo: “tenho sede”.
O Deus revelado por Jesus é sem preconceitos. É ele quem se dirige a um samaritano. Aliás, mais grave: uma mulher samaritana.
Vai além, pede-lhe algo: “tenho sede”.
Um Deus diferente, quebra leis, regras e paradigmas. O foco é a pessoa, a lei é o amor.
Não há espaço para injustiça ou discriminação. O Reino é inclusivo.
Na época de Jesus - e até hoje as coisas não mudaram por lá – os samaritanos eram considerados pecadores, um povo inferior.
Não há espaço para injustiça ou discriminação. O Reino é inclusivo.
Na época de Jesus - e até hoje as coisas não mudaram por lá – os samaritanos eram considerados pecadores, um povo inferior.
A mulher, nem pensar. Seu único direito era servir ao marido e criar filhos.
Uma mulher abandonada ou viúva sem filhos estava condenada a morrer de fome ou à prostituição.
Ela, ao casar, deixava de pertencer à família paterna. Era uma espécie de propriedade do marido.
João sabia bem disso. Ele diz que Jesus, no último instante, entregou sua mãe Maria aos seus cuidados.
Uma mulher abandonada ou viúva sem filhos estava condenada a morrer de fome ou à prostituição.
Ela, ao casar, deixava de pertencer à família paterna. Era uma espécie de propriedade do marido.
João sabia bem disso. Ele diz que Jesus, no último instante, entregou sua mãe Maria aos seus cuidados.
A MENSAGEM
João narra o novo processo de conversão: não é mais preciso lutar com Deus ou esperar ser pinçado dentre os justos.
O chamado é universal. Independe de raça, de sexo, de condições econômicas.
Não basta se achar justo ou com direito adquirido por predestinação ou linhagem.
O chamado é universal. Independe de raça, de sexo, de condições econômicas.
Não basta se achar justo ou com direito adquirido por predestinação ou linhagem.
A condição é simples: aceitar a Nova Aliança e ser fiel a ela. Este é o verdadeiro casamento.
João e outros autores bíblicos tratam a aliança de Deus com a humanidade como um casamento.
Jeremias é mestre nisso. Compara o distanciamento do plano de Deus com adultério.
João atualiza esta sutileza: “Falaste bem; 'não tenho marido', pois tiveste cinco e o que tem agora não é teu marido, nisso falaste a verdade” (Jo. 4,17-18).
Jeremias é mestre nisso. Compara o distanciamento do plano de Deus com adultério.
João atualiza esta sutileza: “Falaste bem; 'não tenho marido', pois tiveste cinco e o que tem agora não é teu marido, nisso falaste a verdade” (Jo. 4,17-18).
Esperto esse João. Não faz eco chamar a samaritana de adúltera. Isso já era esperado.
Fosse uma judia, vá lá, mas samaritana... Onde esse João quer chegar?
Fosse uma judia, vá lá, mas samaritana... Onde esse João quer chegar?
Olhem só: cinco maridos teve a samaritana e está com outro.
Somando cinco anteriores com atual teremos seis.
O número seis pode significar muitas coisas: o fim de uma obra: Deus fez o mundo em seis dias; uma aliança: humanidade igual a dois (Adão e Eva) com Deus (trindade), duas vezes três é igual a seis.
Somando cinco anteriores com atual teremos seis.
O número seis pode significar muitas coisas: o fim de uma obra: Deus fez o mundo em seis dias; uma aliança: humanidade igual a dois (Adão e Eva) com Deus (trindade), duas vezes três é igual a seis.
Parece que a samaritana chegou a dois ápices: o fim da procura (seis dias ou seis não-maridos) e ao meio-dia.
Interessante: meio-dia não é tão tarde (no fim da vida) e nem tão cedo (na aurora da juventude).
O encontro com o sétimo esposo (sete significa infinito, eterno...) é numa hora boa, nem tão cedo e nem muito tarde.
Interessante: meio-dia não é tão tarde (no fim da vida) e nem tão cedo (na aurora da juventude).
O encontro com o sétimo esposo (sete significa infinito, eterno...) é numa hora boa, nem tão cedo e nem muito tarde.
A conversão se dá em solidão. Jesus está só, os apóstolos foram à cidade.
A samaritana também está só, fora buscar água.
Água significa vida. Para João significa purificação e conversão.
Ele costuma materializar a ação do Espírito na água. Jesus, ao morrer, derrama água do seu lado. Derrama o Espírito. Sem água, perdeu a vida.
A samaritana também está só, fora buscar água.
Água significa vida. Para João significa purificação e conversão.
Ele costuma materializar a ação do Espírito na água. Jesus, ao morrer, derrama água do seu lado. Derrama o Espírito. Sem água, perdeu a vida.
A conversão é profunda, vem de dentro, não ocorre por euforia, por fanatismo ou por obrigação.
Ela se dá num deserto interior. Um deserto de ideais, de conceitos, sem tumulto. É preciso silêncio. A condição é ter sede. Sede de Vida.
Ela se dá num deserto interior. Um deserto de ideais, de conceitos, sem tumulto. É preciso silêncio. A condição é ter sede. Sede de Vida.
Equivocadamente, temos a tendência de olhar para fora. Julgamos e condenamos a samaritana.
Muitas vezes, elegemos e elencamos outras samaritanas. Ficamos limitados ao adultério supérfluo, quando a verdadeira traição já pode ter ocorrido há muito.
Posso ter traído a aliança, quando abandonei a missão para a qual fui feito.
Muitas vezes, elegemos e elencamos outras samaritanas. Ficamos limitados ao adultério supérfluo, quando a verdadeira traição já pode ter ocorrido há muito.
Posso ter traído a aliança, quando abandonei a missão para a qual fui feito.
Outras vezes, nos perdemos na história. Ficamos imaginando figuras e locais passados.
Essas armadilhas nos deixam míopes. Deixamos de olhar para dentro de nós mesmos. Para o real do nosso agir e dos nossos ideais.
Afinal, com quem estamos sendo leais, quais são nossos casamentos (não necessariamente o matrimônio)? E os momentos de nossas deslealdades?
Afinal, com quem estamos sendo leais, quais são nossos casamentos (não necessariamente o matrimônio)? E os momentos de nossas deslealdades?
Para Jesus nossa missão é simples: basta ser fiel consigo mesmo. Encontrar a verdadeira identidade interior. Assumir esse compromisso em ser feliz e promover felicidade.
A samaritana descobriu isso: “vinde ver um homem que disse tudo que eu fiz” (sou). Eis o milagre: deixar esse Homem dizer quem sou eu.
Nos só encontraremos isso olhando para dentro. Lá é Deus quem nos fala. A samaritana pode ser cada um de nós. Para mim a samaritana sou eu.
Jesus ou o seu Espírito está dentro. Não precisamos procurar fora. Basta desejar aprofundar no nosso interior. “o poço é profundo. De onde pois tirarás essa água viva?”.
A água viva é o próprio Deus na pessoa do Espírito Santo: “Deus é espírito e os que o adoram devem adorá-lo em espírito e verdade”.
Esse é o sétimo e verdadeiro casamento: encontrar a missão para a qual fomos feitos e nos deixar nos inebriar por ela.
Esse é o sétimo e verdadeiro casamento: encontrar a missão para a qual fomos feitos e nos deixar nos inebriar por ela.
Jesus não nos olha como criancinhas. Não precisamos mais depender de ninguém. Nem de regras ou leis que geram um falsa ideia de dever cumprido ou de alimento para um imagem cada vez mais negativa de nós mesmos.
Somos livres e adultos. Há uma missão inata. Chega de tatear à procura de realizar ideais (casamentos) frustrantes.
Quantas vezes procuramos a felicidade nesses casamentos. Alianças fracassadas e paradoxais.
É paradoxal, pois, se as alcançamos vivemos decepções, se não, nos frustramos.
A felicidade fica cada vez mais longe e investimos em novas aventuras.
Quantas vezes procuramos a felicidade nesses casamentos. Alianças fracassadas e paradoxais.
É paradoxal, pois, se as alcançamos vivemos decepções, se não, nos frustramos.
A felicidade fica cada vez mais longe e investimos em novas aventuras.
Quais são esses casamentos? Toda forma de idealismo aos quais nos colocamos como como finalidade da vida.
São as velhas doutrinas dos sacerdotes de baal: o poder a qualquer custo, o saber tudo, colecionar títulos; o andar na “onda”, na moda, a arrogância, a discriminação, os fundamentalismos legais, ideológicos e religiosos e o mais grave: toda espécie de exclusão, de discriminação e sectarismo social.
São as velhas doutrinas dos sacerdotes de baal: o poder a qualquer custo, o saber tudo, colecionar títulos; o andar na “onda”, na moda, a arrogância, a discriminação, os fundamentalismos legais, ideológicos e religiosos e o mais grave: toda espécie de exclusão, de discriminação e sectarismo social.
Há uma infinidade de outros casamentos: as drogas nobres ou menos nobres: ativismos social, religioso, workaholic, grupos de relacionamento estéreis, regados a alcool.
Enfim, tudo aquilo que nos distancia da realidade, do sorriso de uma criança, de um abraço caloroso, de uma visita vitalizante, de uma escuta ativa e outros.
Enfim, tudo aquilo que nos distancia da realidade, do sorriso de uma criança, de um abraço caloroso, de uma visita vitalizante, de uma escuta ativa e outros.
A PROPOSTA
O problema não é o que se faz. Obviamente, vivemos num mundo exigente e Jesus não nos propõe viver à margem dele. O que se destaca é o fim, o propósito de tudo o que fazemos.
A velha frase (atribuída a santo Antônio) faz sentido: “digas-me o que faz na maior parte do seu tempo e eu te direi onde está o seu deus”.
A aliança proposta por Jesus não frusta. Traz alegria. Convida a um profetismo gratificante.
“A mulher... deixou seu cântaro e correu à cidade... Eles saíram da cidade e foram ao seu encontro”.
O testemunho é eficaz: “..., pedindo-lhe que permanecesse com eles... Já não é por causa do que tu (a mulher) falaste que cremos. Nós próprios o ouvimos, e sabemos que é verdadeiramente o Salvador do mundo”.
“A mulher... deixou seu cântaro e correu à cidade... Eles saíram da cidade e foram ao seu encontro”.
O testemunho é eficaz: “..., pedindo-lhe que permanecesse com eles... Já não é por causa do que tu (a mulher) falaste que cremos. Nós próprios o ouvimos, e sabemos que é verdadeiramente o Salvador do mundo”.
Quem isso experimenta tem a mesma sensação da samaritana. Dá gosto ir a cidade e dar testemunho desse encontro.
Ninguém consegue beber dessa fonte e não sair por aí gritando de alegria.
E tal como o povo de Sicar, não gera dependência de alguém. Permanece nela pelo seus próprios sentimentos.
Ninguém consegue beber dessa fonte e não sair por aí gritando de alegria.
E tal como o povo de Sicar, não gera dependência de alguém. Permanece nela pelo seus próprios sentimentos.
Ingenuidade? Claro que não. Eu mesmo sou testemunha. E não estou só nessa caminhada.
Há uma multidão comigo, alguns distantes, outros muito próximos: minha esposa e grandes amigos são exemplos concretos.
Há uma multidão comigo, alguns distantes, outros muito próximos: minha esposa e grandes amigos são exemplos concretos.
Lavagem cerebral? Claro que não. Sinto que sou o que sou e não o que esperam de mim.
Sinto-me cada dia mais autêntico, mais tolerante, mais humilde e dentro de uma missão clara: ajudar outras pessoas a serem elas mesmas e a construírem ambientes mais humanos e felizes.
Sinto-me cada dia mais autêntico, mais tolerante, mais humilde e dentro de uma missão clara: ajudar outras pessoas a serem elas mesmas e a construírem ambientes mais humanos e felizes.
CONCLUSÃO
Este é, sem dúvida, o alimento que sacia minha fome e minha sede: estar em comunhão com essa multidão, guiado unicamente pela luz interior que vem do alto.
Portanto, não é uma história distante, ocorrida com outros. Ela é presente e me convida a refletir.
Quantas vezes em minha vida, Jesus pode ter dito: - “Dá-me de beber”?
Quantos maridos (esposas ou melhor: alianças) eu já tive?
São questões passadas, hoje vale o único tempo controlável: o tempo presente.
Quantas vezes em minha vida, Jesus pode ter dito: - “Dá-me de beber”?
Quantos maridos (esposas ou melhor: alianças) eu já tive?
São questões passadas, hoje vale o único tempo controlável: o tempo presente.
Sem dúvida, a samaritana de hoje sou eu.